Reclamaram de pontos já acordados há tempos. Primeiro implicaram com o ano-base, 1990, usado para calcular a redução de emissões dos países desenvolvidos. Queriam 1995 (seguir 1990 no texto é ser coerente com a ciência do clima, pois é o ano-base usado pelo IPCC). Também chiaram de serem cobrados no futuro pelas suas reduções de emissão. Não queriam, do mesmo modo, aceitar um volume mínimo de reduções domésticas como pedágio para entrar no mercado de créditos de carbono. Criticaram ainda a meta global de corte contida no documento dizendo que ela era irreal.
As demandas paralisaram a reunião plenária, que continuou numa série de encontros paralelos sem impacto direto sobre os trabalhos. Por volta das 8 da manhã, uma solução tipicamente diplomática permitiu que a reunião fosse retomada. Como não havia meio de achar um consenso, produziu-se um documento com uma chuva de colchetes, usados nos textos oficiais para demarcar indefinições.
Enquanto isso, os grupos que mais podem pressionar as delegações, os observadores e a imprensa, tinham seu trabalho limitado e seu acesso ao Bella Center, restrito. E a situação deve piorar até o final da conferência.
Nesta quinta-feira, penúltimo dia de COP15, somente 500 representantes de organizações não-governamentais poderão entrar no Bella Center – justo no momento em que os chefes de Estado tomarão decisões. Questiona-se nos corredores se a imprensa poderá seguir as reuniões, numa demonstração de que não há transparência no encontro.
Do lado de fora, a tensão chegava às vias de fato. Um choque entre manifestantes que rumavam ao Bella Center e a polícia dinamarquesa acabou com feridos e 250 presos, após cenas de pancadaria e gás lacrimogêneo. Relatos indicam que helicópteros da polícia soltam bombas de gás sobre qualquer aglomeração na cidade.
À medida que a hora da decisão chega, a organização da conferência tenta reduzir a pressão externa em cima dos delegados. Afinal, é mais fácil entregar pouco quando há poucos olhos sobre suas cabeças.
É fundamental que, nesses momentos finais de COP15, os chefes de Estado se lembrem que representam pessoas que serão afetadas pelo aquecimento global. E que levam para Copenhague o compromisso de salvar o planeta, e não promover sua imagem ou maquiar de verde seus pseudo-compromissos de desenvolvimento sustentável.